"Quando
alguém se apropria de um texto sem dar os créditos ao autor, essa
pessoa se apropria de um momento, de uma história que a inspirou, da
oscilação dos sentimentos, de trocas íntimas.Ela se apropria de uma
transa, de um abraço, de uma vitória, de uma dor, de uma cura e de horas
que foram dedicadas à elaboração daquilo. Ela se apropria de uma
lembrança, de uma saudade, de uma angústia, de uma solidão, de um
talento. Ela se apropria de algo que pode exemplificar exatamente o que
ela queria dizer, mas que teria dito de outra forma.Ela não escreve uma
história, ela escreve uma farsa.
Por mais que um texto meu pareça
fluido ou que eu tenha “facilidade” em escrever, este é um ato
solitário e de muita entrega. As palavras são temperamentais e, muitas
vezes, arredias. Seduzi-las será sempre um desafio. Compartilhar um
texto é um ato de generosidade, porque se compartilha, antes de tudo,
uma nudez. E é essa honestidade que tantas vezes desanuvia o coração de
alguém que descobriu que não está passando pela mesma situação sozinho.
Compartilhar é uma forma de dar calor, de segurar a mão, de fazer um
afago, de pedir colo. Por mais simples que seja um texto, ele sempre é
fruto de muita leitura, estudo, autoconhecimento, conversa, observação e
trabalho. Por isso, o autor merece respeito e consideração. Talvez
algumas pessoas não saibam, mas textos são como filhos que a gente solta
no mundo, mas todos eles têm uma certidão de nascimento, uma
identidade, uma digital.E serão reconhecidos mesmo que desfigurados,
porque têm DNA.
Marla de Queiroz